Experiências religiosas vívidas são alucinações não psicóticas



Investigadores da Universidade Stanford (Califórnia), nos Estados Unidos, resolveram abordar o estudo das alucinações por um ângulo diferente

Ao invés de focar em pessoas com perturbações clinicamente comprovadas, como a esquizofrenia, eles se concentraram em indivíduos saudáveis que também têm experiências de saída do estado normal da mente. Analisando os casos, eles descobriram que há relação entre visões de cunho religioso com determinadas condições cerebrais.

O estudo foi parte da pesquisa de campo de uma antropóloga americana, Tanya Luhrmann. Ela entrevistou centenas de membros de uma comunidade evangélica. Alguns deles afirmam terem vivenciado conversas reais e autênticas com Deus, e Luhrmann se dedicou a descobrir o que há de comum entre estas pessoas.

A autora cita o caso de Hannah (nome fictício), jovem integrante da comunidade que é perfeitamente saudável neurologicamente. 

Em suas visões, ela alega comunicar diretamente com Deus, em algumas vezes vê-lo de maneira clara e senti-lo dentro dela própria. Mais de 30 membros da comunidade se encaixam na mesma situação de Hannah.

Luhrmann conseguiu encontrar muito em comum entre aqueles que referiram tais alucinações. Ela identificou que existe um mecanismo mental (ainda desconhecido, em grande parte) pelo qual todos os seres humanos estariam sujeitos a ter um sonho excessivamente real, por exemplo, em que uma entidade espiritual muito forte (que pode ser a figura de Deus como também a do Diabo ou outro ente) visita a pessoa dentro de sua consciência.

Esta tendência, conforme explica a antropóloga, é mais comum do que parece: de 10% a 15% dos adultos dos Estados Unidos e do Reino Unido já vivenciaram uma experiência parecida. A principal questão que ela ressalta é que não se trata de um quadro psicótico. 

Na psicose, existe uma perda diagnosticável de contacto com a realidade, o que não se aplica às alucinações religiosas. 

O que predomina, neste caso, são as experiências culturais e históricas de cada pessoa, que condicionaram o cérebro a um estado específico. É o que a autora chama de “absorção” de um ambiente imaginativo, o que facilita a criação das imagens presentes nas alucinações.

Tanya Luhrmann oferece, em suma, uma orientação para que psicólogos e outros profissionais da saúde estudem melhor estas alucinações no futuro: investigar padrões mentais de vivências passadas, e focar na bagagem cultural que se instala na consciência de cada um.

fonte: Hypescience

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