Igreja Católica adota missa 'hightech'


Doze paróquias da diocese de  Rio Preto deixaram de usar folhetos impressos com o roteiro da missa durante a celebração. Os trechos bíblicos e ritos liturgícos  devem agora ser acompanhados pelos fiéis através da projeção de imagens de um aparelho digital chamado “datashow”. 

Dentre as igrejas que adotaram esse método de acompanhamento da missa estão a paróquia Santuário das Almas, Divino Espírito Santo, Santa Rita de Cássia e Sé Catedral.

O pároco da igreja Menino de Jesus de Praga, padre Sílvio Roberto Santos, deixou de usar os folhetos no início deste mês e adotou o datashow como ferramenta única para exibir todo conteúdo litúrgico da missa. 

“Usávamos o datashow e o folheto juntos há pelo menos cinco anos. Muitas das músicas cantadas em nossa paróquia não estão no folheto. Dessa forma, unificamos a forma de acompanhar a missa”, disse.

O padre propôs a substituição dos folhetos  na sua comunidade, e segundo ele, não houve resistência dos fiéis para a mudança. “As pessoas entenderam a necessidade de facilitar a experiência litúrgica. Se temos a tecnologia a nosso favor, devemos é usá-la”, afirma. Segundo ainda o padre, o gasto anual com folhetos chegava à R$ 6 mil. A economia deve ser utilizada  em investimentos na infra-estrutura da igreja e na manutenção da ajuda à comunidade.

A paróquia Imaculado Coração de Maria, no bairro Santa Cruz, foi uma das pioneiras na cidade a mudar o sistema de acompanhamento da missa exclusivamente para o telão, há quatro anos 

“Não há dúvida de que a missa fica mais interativa. Consigo usar até vídeos para explicar uma passagem bíblica. Até hoje, só tivemos aprovação com essa mudança”, explica o pároco padre Oscar Clemente.

De acordo com o padre, foi preciso aproximadamente R$ 8 mil para comprar o equipamento necessário. Dinheiro esse que corresponde à metade da economia com os gastos dos folhetos durante esse período. 
“Além de ajudar a economizar nas despesas da igreja, ainda contribuímos com o meio ambiente, afinal todos esses folhetos viravam lixo depois da missa”, disse o padre.

O ex bispo de Rio Preto, Dom Paulo Mendes Peixoto, atual arcebispo de Uberaba garantiu que os padres têm autonomia para extinguirem o uso dos folhetos durante a missa e que a Igreja não é contrária à decisão, mas que a mudança deve ser feita com responsabilidade.

“Estamos na era da comunicação e seria um contrasenso deixar de usar aquilo que pode nos ajudar. O que não pode, nem deve acontecer é tranformar as imagens projetadas em um amuleto como virou o folheto”, explicou o arcebispo.

Dom Paulo ressalva que a mudança deveria acontecer seguindo critérios limitados no conteúdo projetado. “Seria melhor que apenas as leituras fossem exibidas, para que os fiéis não fiquem bitolados ao texto exibido. Os padres que tomaram essa decisão devem se preocupar com o fato dos fieis irem participar da missa e não só para assiti-la.”

O BOM DIA questionou o atual bispo da diocese de Rio Preto dom Tomé Ferreira, desde quarta-feira, sobre o seu posicionamento, enquanto responsável pela diocese. Por meio de sua assessoria, o bispo alegou não ter tempo para falar com a imprensa. No mesmo período, dom Tomé permaneceu ativo nas redes sociais, com mais de 30 publicações em facebook e twitter. 

Tradição /Os folhetos utilizados durante a missa foram liberados em 1965, com a decisão do  Concílio Vaticano 2º. Na época, o Papa Paulo 6º permitiu que as missas deixassem de ser realizadas em latim e pudessem usar a língua vernácula.

De acordo com o padre Oscar Clemente, o folheto era  uma medida alternativa até as pessoas aprenderem como se portar em uma celebração. “Como ninguém sabia as respostas da missa na língua nativa, a solução foi criar uma ferramenta temporária que os ajudasse”.

Alguns fiéis defendem a volta do uso dos folhetosNem todos os fiéis concordam com a ideia de algumas Igrejas Católicas substituirem os textos impressos em folhetos para exibição em um aparelho eletrônico durante a missa.

 “A gente vem para rezar e não para assistir um espetáculo legendado  no telão”, disse a aposentada Guilhermina Araújo dos Santos, de 58 anos, que vai à missa desde os seis anos de idade.

  A aposentada levou um susto quando chegou à celebração na paróquia, que preferiu não mencionar, e não encontrou os folhetos disponíveis.

“Vi aquela estrutura armada, mas nem imaginava do que se tratava. Quando pedi por um folheto, me disseram que não existiria mais”, disse.
De acordo com ela, a projeção do texto tira a liberdade de acompanhar a celebração, já que o texto deve ser lido rapidamente enquanto ele está disponível na imagem.

“A missa tem que ser sentida. Temos que aproveitar cada minuto da celebração. Sem o folheto não dá para desgrudar o olho da imagem se quiser saber o que está acontecendo”. 

O vendedor Aparecido Francisco de Oliveira, 54 anos, sente dificuldade com a leitura da imagem. “Uso óculos há pelo menos vinte anos e tenho dificuldade para enxergar de longe e de perto. Sempre comprei os óculos para ler de pertinho, agora ficou difícil”, disse o aposentado.
Para ele conseguir acompanhar o texto é preciso sentar próximo ao local da projeção. “Tem que chegar cedo para sentar na frente. Se não tiver lugar, só consigo ouvir a missa e acabo saindo sem entender algumas coisas”.

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