“As mulheres na Igreja devem ser valorizadas, não clericalizadas”

Ao longo dos últimos meses alguns meios de comunicação social têm especulado sobre a possibilidade de o Papa vir a nomear mulheres cardeais como parte da sua reforma da Igreja. 

Mas numa entrevista publicada este domingo no jornal “La Stampa”, Francisco não dá qualquer crédito aos boatos, dizendo que “as mulheres, na Igreja, devem ser valorizadas, não clericalizadas”. 

"Não sei de onde é que isso veio. Quem está a pensar em mulheres cardeais está a sofrer de clericalismo", conclui.

O Vaticano já tinha dito que não há razões teológicas para não nomear mulheres para este cargo, uma vez que na sua essência ele não implica a ordenação sacerdotal, mas o padre Federico Lombardi, director da sala de imprensa da Santa Sé, disse também que não há qualquer plano para o fazer. 

Outra questão que tem dado muito que falar ao longo dos últimos meses é sobre a situação dos divorciados em segundas uniões e se devem ou não ser admitidos aos sacramentos, o que actualmente não é permitido. O Papa confirma que essa questão será debatida no Sínodo para a Família, que se realizará em Outubro de 2014, mas adverte que o impedimento de comungar não deve ser visto como um “castigo”. 

Nesta entrevista ao jornal italiano o Papa responde ainda às acusações que têm surgido, sobretudo de sectores mais conservadores dos Estados Unidos, de que as suas posições sobre a economia são “marxistas”. O Papa nega, mas diz que não se sente ofendido pela comparação: “A ideologia marxista é errada. Mas ao longo da minha vida conheci tantos marxistas que são boas pessoas, que não me sinto ofendido”. 

A acusação de marxismo foi feita entre outros pelo influente comentador Rush Limbaugh, em relação à exortação apostólica “A Alegria do Evangelho”, mas Francisco contrapõe que: “Na exortação não se encontra nada que não esteja também na Doutrina Social da Igreja”. 

Questionado pelo “La Stampa” o Papa fala também do diálogo ecuménico. Para Francisco a realidade dos cristãos perseguidos, aquilo a que chama o “ecumenismo de sangue”, serve também para revelar o verdadeiro valor das divisões que ainda existem: “Nalguns países os cristãos são ameaçados por usarem um crucifixo ou terem uma Bíblia. Antes de os perseguirem não lhes perguntam se são anglicanos, luteranos, católicos ou ortodoxos. O sangue está misturado. Para aqueles que nos matam, somos cristãos”. 

A sorte dos cristãos perseguidos é algo em que o Papa pensa sobretudo na altura do Natal, explica ainda Francisco. Este período do ano é, para ele, um de consolação: “O Natal é o encontro de Deus com o seu povo. É também uma consolação, um mistério de consolação. Às vezes, depois da Missa do Galo, passo umas horas sozinho na capela, até à missa da madrugada, com este sentimento de profunda consolação e paz.” 

“Na noite de Natal penso sobretudo nos cristãos que vivem na Terra Santa, nos que têm dificuldades, todos os que tiveram de abandonar essa terra por causa de vários problemas.” 

Questionado ainda sobre o sofrimento das crianças inocentes, o Papa não procura fazer qualquer explicação teológica ou justificação, limitando-se a dizer que quando se encontra perante estas situações só lhe ocorre perguntar: “Porquê, meu Deus? Porquê?”

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